“Sabe, cara, eu tenho que
confessar que quando eu mandei ela embora, eu fiquei esperando ela voltar. Eu
fiquei exatos 145 dias esperando uma ligação, uma mensagem, até um sinal de
fumaça eu tava aceitando. Eu lembro que a última vez que eu a vi, ela vestia
uma calça jeans e uma blusa rosa que deixava ela mais linda do que se ela
estivesse de vestido e salto alto. Eu sempre gostei disso nela, dessa coisa
dela parecer mais bonita que todo mundo mesmo que tivesse de pijama e maquiagem
borrada. Ela tem uma coisa diferente, sabe? Ela não é como as outras, ela gosta
de rock mas eu lembro que ela sabia a letra inteirinha de uma musica do
Restart. Ela vestia roupas curtas, mas ela ficava estranhamente inocente com
essas roupas, parecia uma daquelas atrizes adolescentes de novela das oito. Ela
era tão minha, só de olhar para ela eu sabia que ela era minha… Era… Não é mais
porque eu achei que a vida com ela seria monótona demais, sei lá, achei que não
ia dar certo porque a gente dava certo demais, e eu fiquei com medo de em algum
momento ela ir embora e me deixar. E eu era desse tipo mesmo, que ligava pra
quem terminava e pra quem era o mais forte e o mais inteligente, mas ela não
sabia disso, ela nunca soube dessas minhas competições internas e mesmo assim
sempre pareceu frágil demais, inocente demais. Ela me beijava com vontade de
beijar o resto da vida, eu sentia isso, cara, eu sentia que ela gostava de mim
como nenhuma outra garota nunca gostou. Ela se aninhava nos meus braços com uma
facilidade tão incrível que parecia que ela tinha nascido para ficar
escondidinha dentro do meu abraço. 145 dias e eu não consigo esquecer o jeito
que ela olhava pra mim, como se eu fosse o melhor cara do mundo, como se eu
valesse a pena e ela estivesse disposta a tudo por mim. Eu tinha aquela garota
na palma da minha mão, eu poderia trair, brincar, até gritar, que ela ficaria
comigo porque sempre soube que eu precisava dela, embora não falasse, ela sabia
que eu já não imaginava um jeito de ficar longe dela. Mas se ela sabia, por que
ela me deixou? Eu sei que a mandei embora, mas era pra ela ter ficado, cara. Só
que ela foi embora, e levou tudo com ela, as calcinhas que ela pendurava sob o
box e as camisetas que ela guardava na minha gaveta de meia.Levou aquele beijo,
aquela voz gostosa e se levou de mim rápido demais. Eu fui um canalha, um
babaca, um otário e outras essas coisas que ela me disse quando foi embora e
deu aquele gritinho agudo dizendo que ela nunca deveria ter me conhecido. Na
hora eu não senti nada, sei lá, fiquei olhando pra ela e deixei ela ir embora,
mas depois, depois quando eu olhei pro box e não vi a calcinha dela lá, eu
senti que tinha feito merda e que já era tarde demais, que eu tinha sido o cara
mais burro do mundo e tinha perdido a única garota que gostou de mim mesmo eu
dando motivos pra não gostar. Ela assistia futebol, ia à finais de campeonato
comigo, ela torcia comigo, ela amava andar pela casa só de calcinha e sutiã,
ela fazia uma massagem que só ela sabe fazer, ela não brigava comigo quando eu
sumia e muito menos reclamava quando eu passava uma semana sem dar sequer um
telefonema. Ela gostava de mim, ela me amava, não amava? Agora me diz porque eu
mandei ela embora. Eu tinha a garota perfeita, a namorada perfeita, a mulher
perfeita, e poderia ter pro resto da vida se quisesse. Mas eu mandei ela embora
e ela não me liga mais. Ela sai com os amigos e dizem que ela está feliz. Ela
encontrou alguém melhor do que eu. Ela está bem, não está? Então por que eu não
estou? Nesses 145 dias eu senti a falta dela. E hoje no 146° dia, eu sinto a
falta dela pra caralho.”
— Eu mandei ela embora, e porra, ela foi mesmo.
— Cibele Sena.
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