14/01/13

foi um mal necessário

"Agora é de vez, vou-me amar". "Eu mereço mais". "Não vou deixar que este sentimento tome conta de mim, não mais". Posso dizer-vos que não há uma página do meu antigo diário que não tenha uma destas frases escritas. E hoje chego à conclusão, que de todas as vezes em que as escrevi, eu mentia. Prometi a mim mesma mundos e fundos, e só quando me esqueci de tornar isso real é que aconteceu. Tenho vergonha. Pra ser honesta. Tenho vergonha, porque eu tinha a obrigação de me fazer feliz, de mandar tudo abaixo de braga e cuidar das minhas feridas, estancar a hemorragia, coser com pontinhos bem juntos e passar creminho para a cicatriz não ficar feiosa. É, eu tinha. Uma obrigação que eu não fui capaz de ser responsável ao ponto de a sustentar. A verdade, é que eu nem sabia como isso se fazia, de todas as vezes que tentei cuidar de mim mesma, sempre conseguia fazer com que as feridas abrissem mais. E hoje eu estou para aqui a relatar o meu histórico de fracasso, e não faço a mínima ideia de como eu fui capaz de deixar que me fizessem tal coisa. Quando a gente tem distância suficiente para ver as coisas de outra perspectiva é que se apercebe da figura de otária que fazia.Tudo bem, ainda me falta o ar ao falar de certos assuntos, porque estou meia que revoltada por não ser capaz de gerir todas as minhas emoções, por não ser capaz de acreditar em algo que antes era onde eu me baseava e isso, de certa forma ainda me sobe as tensões, porque não acho justo, mas aí lembro-me que o mundo gira e fico mais tranquila. Mas tem partes boas né? Faz um bem danado logo que passa, já dizia Caio. Tem erros que eu não volto a cometer nem que me paguem. E tem lições que estão quase que escritas no teto do meu quarto, que é para logo que abrir os olhos eu não me esqueça de as seguir à regra. Tem pessoas que nunca mais deixo chegar perto. E tem outras que eu colo em mim com toda a força deste mundo. E depois tem aquele bicho, aquela aresta bem limada pela dor, que sempre que alguém tenta pisar, ela se mostra e magoa o pé. E tem aquela capa de proteção que se transformou em armadura. E tem aquele amor próprio que foi alimentado pela força. E tem aquele carinho em especial pelas pessoas que me resgataram quando eu não tinha nem força para agradecer. E tem aqueles mimos guardados para todo o mundo que é gentil comigo. Vêem? Tem coisas muito boas. E que eu agradeço, sem ironia, a quem me fez mal e ao mal que me fizeram. Sem ambas as partes jamais seria o que sou hoje. Obrigada por me tornarem numa melhor pessoa. E obrigada por me fazerem diferente de vocês. E obrigada por tomarem a minha maldade. E me deixarem todo o meu amor. É, obrigada por me deixarem todo o amor. Obrigada, do fundo do coração. Foi um mal necessário. 


com todo o meu coração , bé

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